A pró-reitora de Ensino de
Graduação (PROEG) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), professora
Moêmia Gomes de Oliveira Miranda – doutora em Educação – entrou de vez na linha
sucessória do reitor Milton Marques de Medeiros, que concluirá seu mandato em 28
de setembro do próximo ano, dia em que se dá, anualmente, a Assembleia
Universitária. O blog conversou com Moênia e percebeu que ela se apresenta como
alternativa viável e que apresenta boas ideias para a Academia. Confira abaixo
a entrevista:
A sucessão do reitor Milton
Marques de Medeiros já começou no campo da especulação. O nome da senhora
aparece entre os prováveis candidatos. A Pró-Reitoria de Graduação tem como
projetar o seu nome à sucessão da Reitoria?
Ao longo
de minha vida profissional acumulei saberes e experiências no campo da gestão
pública. Tais vivências, reacenderam a reflexão a respeito das bases teóricas e
metodológicas que sustentam a concepção de gestão do trabalho coletivo e
cooperado, cujo aprofundamento ocorreu com minha atuação na universidade
enquanto docente e, posteriormente, como Pró-Reitora de Ensino de Graduação.
A
Pró-Reitoria projeta um trabalho construído coletivamente, que tem propiciado
sua melhor inserção em todos os cursos da UERN, gerando uma maior aproximação e
envolvimento com a realidade do ensino de graduação, identificando como este se
articula com as demandas sociais existentes e com a pós-graduação, a pesquisa e
a extensão.
Nesta
perspectiva, a nossa gestão à frente da PROEG, tem contribuído para maior
agilidade nos processos de regulação dos cursos, fortalecimento e ampliação dos
programas de apoio ao ensino de graduação (PET, PIM, PIBID, PRODOCÊNCIA),
oferta de cursos de graduação em caráter especial através do PARFOR e da
Universidade Aberta do Brasil (UAB), o aprimoramento do sistema de registro e
acompanhamento da vida acadêmica, revisão e ampliação das normas institucionais
relativas ao ensino, maior interação com os campi avançados, fortalecimento das
ações relativas a apoio e inclusão de alunos com necessidades especiais, além
da captação de recursos através de órgãos de fomento como CAPES e CNPq.
A gestão
foi fortalecida e qualificada com a nossa participação no Fórum Nacional de
Pró-Reitores de Ensino de Graduação – FORGRAD que vem possibilitando o profícuo
diálogo com as universidades brasileiras no sentido de socializar o trabalho
desenvolvido, bem como a identificação de estratégias conjuntas para o
enfrentamento dos problemas que permeiam a educação superior.
A
efetivação dessas ações pela PROEG não é apenas mérito de seus gestores, mas
decorre do esforço empreendido pela equipe de assessores e
técnico-administrativos. Acreditamos que esta concepção de gestão nos credencia
para participar do processo sucessório à reitoria da UERN.
A senhora tem interesse em entrar
na disputa?
Hoje, me deparo
com uma articulação em torno do meu nome para a sucessão da reitoria da UERN.
Acredito que isso é fruto do trabalho que estamos realizando, em equipe, no
âmbito da PROEG, com o qual a comunidade uerniana está se identificando. Assim,
motivada pela vontade do coletivo, coloco o meu nome à disposição da UERN para
a sucessão da reitoria.
A UERN terá orçamento de R$ 217
milhões em 2013 e o seu maior desafio é o custeio. Como fazer para aliar
política de desenvolvimento institucional (com novos cursos e necessidade de
pessoal) com a demanda para a sua manutenção?
Embora
tenha havido um acréscimo no orçamento da UERN, os recursos disponibilizados
para 2013 ainda estão aquém das demandas apresentadas pela instituição,
dificultando a retomada de obras paralisadas, impossibilitando investimentos em
novas obras e comprometendo, sobretudo, as despesas com custeio. Como se não
bastasse, ainda há o contingenciamento que pode reduzir o orçamento em até 30%
do valor proposto inicialmente. O desenvolvimento institucional requer
autonomia, inclusive financeira, para que a universidade construa a capacidade
de orientar-se para uma atuação contextualizada, coerente com os interesses da
sociedade.
Dessa
forma, é imprescindível a identificação de prioridades, o planejamento
participativo e a avaliação permanente da implementação do Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI). No que se refere à criação de novos cursos
e ampliação dos recursos humanos, faz-se necessários estudos de demanda e de
viabilidade.
O que fazer para incrementar
cursos e, ao mesmo tempo, fazer com que a Universidade esteja mais presente na
sociedade?
Entendemos
que os problemas da sociedade são os problemas da Universidade, considerando
que ela (a Universidade) é sua legítima
instância de reflexão crítica e de síntese de teorias que possam orientar o
atendimento às suas demandas. Neste sentido, tem como desafio elaborar uma
compreensão ampla e fundamentada relativa às finalidades e transformações da
sociedade. A universidade não pode perder sua vocação crítica e sua capacidade
de visão de conjunto, uma vez que faz parte da totalidade da vida social.
Assim, é
preciso pensar a criação de cursos de graduação e pós-graduação e no
desenvolvimento de ações de extensão, levando em consideração as necessidades
locais.
Além
disso, também é necessário inserir precocemente os alunos de graduação nos
espaços onde a vida e o trabalho ocorrem, produzir conhecimento e desenvolver ações
de extensão coerentes com a realidade social, dialogar permanentemente com
gestores dos serviços nos quais ocorre a inserção de alunos da UERN, bem como
com os movimentos sociais e estudantes, e desenvolver ações de ensino, pesquisa
e extensão de modo articulado.
Como a senhora avalia a política
extensionista atual?
A política de extensão da UERN tem ampliado,
sistematicamente, seu raio de ação no âmbito da sociedade através de parcerias
com diversas instituições, tendo em vista o desenvolvimento de ações e projetos.
No entanto, enfrenta o desafio de se consolidar como uma prática essencialmente
acadêmica no sentido de se constituir como a síntese entre o fazer universitário
e a realidade social, articulando processos educativos e produção de conhecimentos,
numa dinâmica que interliga ensino e pesquisa de uma forma engajada
socialmente.
A extensão possibilita a ampliação do acesso à universidade
daqueles que não foram contemplados pelo ensino superior. De igual modo,
possibilita ao aluno uma formação universitária referenciada na realidade
social, nas suas carências e necessidades.
Os cursos de Mestrado e Doutorado
são suficientes para atender a demanda e às exigências do MEC?
O MEC define na Resolução Nº 3 de 14/10/2010 como critério
para o recredenciamento das universidades a implantação de dois programas de
doutorado e quatro programas de mestrado. Atualmente, a UERN oferta sete cursos
de mestrado e já conta com duas propostas de doutorado construídas. Além
destes, a UERN tem docentes participando de um Mestrado Interinstitucional em
Direito ofertado pela UFRN, bem como de um Doutorado Interinstitucional-DINTER
ofertado pela PUC/PR, além do DINTER em Ciências da Saúde ofertado pela UFRN e
de um DINTER em Educação ofertado pela UERJ, previsto para o início de 2013.
Desse modo, a UERN, nesse aspecto, está numa situação
confortável diante das exigências do MEC para o processo de recredenciamento. No
entanto, considerando-se que a capacitação docente constitui-se numa
necessidade permanente sempre haverá novas demandas.
Qual será o principal desafio da
próxima gestão?
Aprofundar
a qualidade social da educação superior no âmbito da UERN. Significa entendê-la
como patrimônio público, o que requer a produção
de conhecimentos e uma formação acadêmica com um sentido de pertinência social,
bem como pressupõe autonomia para identificar
as prioridades e o conteúdo social das carências e demandas sociais. Nesse
sentido, faz-se necessário: a consolidação da relação da universidade com a
educação básica, o fortalecimento da aproximação com os serviços nos quais
ocorre a inserção dos alunos da universidade, o aprofundamento da formação pedagógica
do docente, o redimensionamento da política de expansão do ensino, o
aprofundamento da articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão e a ampliação
do debate sobre a autonomia universitária.
É possível transferir a Reitoria
para o Campus Central?
A
instalação da Reitoria no Campus Central possibilita uma maior aproximação física
e, consequentemente, o estreitamento da relação com as Pró-Reitorias de Ensino,
de Pesquisa e de Extensão, bem como com os cursos de graduação que se
concentram no Campus Central. No entanto, essa distância física não se
constitui em uma barreira de acesso à reitoria que inviabilize o encaminhamento
das demandas. Assim, não se apresenta como uma prioridade para a universidade.
No campo da pesquisa, como a
senhora - caso seja eleita reitora - faria para direcionar o saber acadêmico em
benefício da economia regional, já que temos o sal, ferro e petróleo como
principais eixos econômicos?
No contexto atual predomina uma compreensão de que
a educação superior deve ter como centralidade das suas ações a economia e a
capacidade laboral. Assim, as demandas têm um sentido mais imediatista, levando
grande parte das universidades a abdicar, pelo menos em parte, da sua histórica
finalidade de produção do conhecimento e da formação humana integral como bens
públicos, adotando, dessa forma, o mercado e não as carências e necessidades da
sociedade como referência.
Entendemos a educação superior como patrimônio
público, que assume o compromisso ético-político com a produção de
conhecimentos com pertinência social. Esse compromisso extrapola, portanto, uma
função meramente instrumental de capacitação técnica e de treinamento de
profissionais.
Desse modo, a responsabilidade social da educação
superior consiste em produzir e socializar conhecimentos que tenham não só
mérito técnico-científico, mas também valor social e formativo, o que requer apreender
as demandas econômicas, sem, contudo, restringir-se a elas. Com esta
compreensão, considerando as riquezas naturais disponíveis em nossa região,
poderemos propor estudos sobre as demandas e as condições objetivas para a
efetivação de ações da universidade que venham a favorecer o desenvolvimento da
região.
A política dos Núcleos Avançados
de Educação Superior deve ser mantida?
A expansão do
ensino superior na UERN se constitui em política fundamental no atendimento às
demandas da sociedade. Ela se expressa na significativa oferta de vagas, e
abertura de novos cursos, aliada à ampliação de suas unidades em diversas
regiões do Estado.
Com essa
política, a UERN está presente em diversas regiões contribuindo com a formação
profissional de seus cidadãos, bem como com a produção de conhecimento e, dessa
forma, participando do desenvolvimento da sociedade.
A repercussão
social que esta política vem assumindo coloca a universidade diante do desafio
de aperfeiçoá-la e consolidá-la a partir de um estudo
de demandas locais e regionais, considerando as condições de infra-estrutura,
de disponibilidade de recursos humanos e financeiros, e respeitando a autonomia
institucional em seus diversos níveis.