Prefeitura Municipal de Assú

segunda-feira, 8 de julho de 2013

‘A oposição conservadora está atordoada’

A “oposição conversadora” não tem o costume de ir às ruas e, por isso, estaria tendo problemas para compreender os recentes protestos populares que tomaram conta do Brasil. Esse é o pensamento da vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal potiguar Fátima Bezerra. Ela analisa que a ideia do plebiscito, proposta pela presidenta Dilma Rousseff (PT), se volta para atender reivindicação popular. “O povo brasileiro quer e precisa ser ouvido sobre que tipo de reforma deve ser feita. Pela Constituição Federal, o plebiscito, por si só, não pode fazer a reforma, mas cumpre o papel de dizer ao Congresso Nacional como ela deve ser. É muita arrogância achar que o povo é desinformado e que não pode orientar, não sabe dar a receita para a doença da política.” A medida anunciada pela presidenta veio depois dos protestos, que geraram queda na sua aceitação popular. A vice-presidente nacional do PT reconhece que o efeito é negativo, mas que atinge governadores e prefeitos. “A diferença é que Dilma está dando respostas às ruas. Ela sabe da sua responsabilidade e os desafios a serem enfrentados. Não adianta a oposição querer transformar as mobilizações legítimas do povo numa crise de governo.”



JORNAL DE FATO – A oposição, embora se diga disposta a apoiar a ideia do plebiscito, bate na tese de que não se terá tempo hábil para implementar as alterações a serem propostas à Reforma Política às eleições de 2014. A senhora acha que o plebiscito é necessário?
FÁTIMA BEZERRA – Absolutamente necessário e adequado. É preciso entender que o brasileiro, tanto o que foi para a rua como o que ficou em casa, sente a necessidade de mudar o modelo político em vigor no País. O povo brasileiro quer e precisa ser ouvido sobre que tipo de reforma deve ser feita. Pela Constituição Federal, o plebiscito por si só não pode fazer a reforma, mas cumpre o papel de dizer ao Congresso Nacional como ela deve ser. É muita arrogância achar que o povo é desinformado e que não pode orientar, não sabe dar a receita para a doença da política. É muito desrespeito vender a ideia que as pessoas sabem eleger seus representantes, mas é incapaz de escolher propostas. Os que são contra o plebiscito querem apresentar um engodo como alternativa, o chamado referendo. Ou seja, querem fazer a reforma e ao povo numa espécie de chantagem, caberia apenas duas opções, "sim" para aceitar a fórmula pronta, ou "não" rejeita tudo e acabou reforma. Referendo é querer passar para o povo a responsabilidade por algo que ele não fez nem deu “pitaco”.

NÃO seria mais interessante expor pontos da Reforma Política antes do plebiscito?
CLARO que sim. A realização do plebiscito requer evidentemente um período de propaganda do TSE, no rádio e TV com esclarecimentos aos eleitores sobre como serão as perguntas, o que significa cada opção e como se dará o voto. Mas é importante ressaltar que a população não é alheia ao debate político e já tem um razoável acúmulo de informações.

VIU-SE que a ideia do plebiscito veio depois da onda de movimentos populares nas ruas e a presidenta Dilma Rousseff disse, em outras palavras, que seria para que a corrupção fosse considerada crime hediondo. A senhora concorda?
VEJA só: enquadrar corrupção como crime hediondo fez parte das propostas que a presidenta Dilma apresentou à nação, como resposta imediata às mobilizações das ruas. O Senado Federal, com o apoio do governo, já aprovou no último dia 26 de junho projeto com esse conteúdo. Agora está na Câmara Federal, onde espero que seja aprovado o mais rápido possível. Vamos lutar por isso, até porque durante toda minha militância de cinco mandatos legislativos essa foi sempre uma prioridade da ação política que pratico. Defendo ainda uma legislação mais dura e eficaz no combate à impunidade e além de avançar nos instrumentos de controle social.

ONDE o governo da presidenta Dilma Rousseff errou, já que a oposição alardeia que os movimentos populares recentes são fruto da falta de ações do governo em áreas vitais da sociedade?
A OPOSIÇÃO conservadora, composta por partidos que nunca estiveram nas ruas para apoiar as lutas do povo e, portanto não sabem interpretá-las, está atordoada. Fica tentando fazer leituras que buscam manipular o que de fato está acontecendo. O povo está nas ruas para exigir avanços, e isso é um exercício de cidadania. As mobilizações pressionam prefeitos, governadores, o Poder Judiciário, o Legislativo. A direita força a barra para tentar uma falsa caracterização de que esse é um movimento contra o governo da presidenta Dilma. Uma coisa é o que o povo está dizendo nas ruas, outra coisa é a versão que é apresentada ao restante da população. Poderia ser cômodo para o PT fazer o discurso que a origem de todos esses protestos estava no valor das passagens do transporte público, que isso é uma pauta municipal e estadual, no caso dos metrôs e do transporte intermunicipal, como é o caso aqui da região metropolitana de Natal, que é fixada pelo Governo do Estado. Mas a presidenta Dilma fez uma leitura correta. Esse é o momento que o povo quer mais, no momento que as polícias dos governos do PSDB de São Paulo e Minas Gerais reprimiram com violência os primeiros protestos, o povo foi para a rua com muito mais força, com uma pauta muito mais extensa. Contra a violência, contra a corrupção, questionando os gastos com a Copa, por melhorias na saúde e na educação. Então essa é uma pauta municipal, estadual e federal e por isso a presidenta chamou governadores e prefeitos para um pacto que desse resposta a essa pauta.

DIAS passados, o senador Cristóvão Buarque fez pronunciamento, no qual afirmou que a presidenta, em recente pronunciamento em rede nacional, deveria ter apontado os erros do Governo e pedido perdão à população...
EU RESPEITO muito o senador Cristóvão, temos uma relação de amizade de longo tempo e a nossa luta comum em favor da educação tem nos aproximado cada vez mais, mas acho que ao propor o pacto com alterações em diversas áreas, o governo já deu sinais de que está disposto a corrigir o que carece de correção. Não podemos aceitar um discurso de terra arrasada, como se nada tivesse sido feito por esse governo. Ao contrário: nos últimos 10 anos, o Brasil mudou e teve enormes avanços na geração de empregos, na distribuição de renda, na educação, nas políticas de moradia, entre outros. O que essas mobilizações de rua dizem é que quer mais avanços e em áreas onde de fato é preciso avançar. Portanto, discordo totalmente dessa posição do senador. A presidenta não fugiu da raia. Tem tratado as manifestações com muita convicção e respeito democrático. Tem escutado e dialogado com as ruas.

A POLÍTICA econômica do Governo Federal tem entrado com frequência na pauta dos discursos de parlamentares da oposição. A senhora vê que a economia estaria, realmente, no eixo central dos problemas levantados pelos oposicionistas?
MAIS uma vez, a oposição cai no discurso fácil. Evidentemente que a crise econômica mundial também afeta o Brasil, mas temos reagido bem a tudo isso. A oposição e parte da mídia têm insistido em plantar o terror de volta da inflação, de aprofundamento da crise, mas os fundamentos da economia brasileira estão bem plantados. O governo não descuidará do controle da inflação e dos demais problemas da economia, que não são só brasileiros. Alguns países europeus, por exemplo, estão em situação de insolvência e até recorrendo ao Brasil como tábua de salvação. Exatamente pela ação firme do governo Dilma, ainda temos uma situação de manutenção dos níveis de emprego, investimentos públicos, políticas sociais etc..

DEPOIS dos protestos, viu-se que houve baixa na aceitação da presidenta Dilma Rousseff. Existem motivos para a queda na popularidade?
EVIDENTEMENTE que o povo na rua significa sempre desgaste para os governantes de plantão. Porém, isso não atinge apenas a presidenta Dilma. Todos os governadores e prefeitos foram atingidos, segundo as pesquisas de opinião. A diferença é que Dilma está dando respostas às ruas. Ela sabe da sua responsabilidade e os desafios a serem enfrentados. Não adianta a oposição querer transformar as mobilizações legítimas do povo numa crise de governo. Repito: não adianta a oposição de forma oportunista insistir na tese de que as mobilizações só afetaram a presidenta Dilma.

NO PLANO estadual, como a senhora analisa o quadro que se desenha para as eleições do próximo ano? É possível entendimento da oposição para uma chapa de consenso?
EU ACREDITO que sim. No primeiro semestre, o PT fez uma rodada de conversas com todos os partidos de oposição. Iniciou um processo de seminários internos, em que estamos discutindo, além da conjuntura, os planos do partido para 2014. O PT potiguar quer ousar, quer crescer. Nossa meta é ampliar a presença na Assembleia, manter o espaço na Câmara dos Deputados e participarmos da chapa majoritária. Neste segundo semestre, devemos concluir os nossos seminários e retomar as conversações com os partidos que fazem oposição ao governo do DEM para discutirmos não apenas uma aliança político-eleitoral, mas um projeto alternativo para o Rio Grande do Norte. Afinal, o que nos unirá não será apenas a questão eleitoral, mas o que vamos apresentar ao povo potiguar como alternativa ao desastre que está sendo esse governo, ou desgoverno, como preferem alguns.

A SENHORA teria interesse na chapa majoritária?
O PT tem interesse e planos para uma chapa majoritária sim, evidente. No meu caso em particular, volto a afirmar que continuo trabalhando o projeto de reeleição. Porém, tenho muita simpatia pela disputa ao Senado Federal. É um espaço político importante, uma importante ferramenta para ampliar a minha luta em defesa da educação e melhorar a vida do nosso povo. Se for essa a decisão do meu partido e aliados, analisaremos com muito entusiasmo e responsabilidade essa possibilidade.

DÁ PARA sentir ou perceber mudanças no Rio Grande do Norte nos dois anos e seis meses do governo democrata?
PARA pior. O governo do DEM está na reta final e todos os problemas dos primeiros dias se agravaram substancialmente. Apesar da postura republicana da presidenta Dilma, que não tem se negado a apoiar o governo do RN, algumas áreas como saúde, segurança pública, combate aos efeitos da seca estão uma calamidade. A educação está abandonada e os servidores são destratados. Decisões judiciais são simplesmente ignoradas e descumpridas. Fora a construção do estádio para a Copa e obras do Governo Federal, não existe um investimento do Governo do Estado e o que aparece na propaganda são obras do governo Dilma, como duplicação de BRs e construção do aeroporto de São Gonçalo. O governo do DEM é medíocre e ineficiente, do ponto de vista administrativo e politicamente conservador. Infelizmente, o povo potiguar está vendo o quanto é duro fazer escolhas erradas, como a que foi feita em 2010. Mas a democracia é um eterno aprendizado, e 2014 está chegando, com grandes expectativas de correção de rumo para o nosso Estado.


Fonte: Jornal de Fato

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