A “oposição conversadora” não tem o
costume de ir às ruas e, por isso, estaria tendo problemas para compreender os
recentes protestos populares que tomaram conta do Brasil. Esse é o pensamento
da vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal
potiguar Fátima Bezerra. Ela analisa que a ideia do plebiscito, proposta pela
presidenta Dilma Rousseff (PT), se volta para atender reivindicação popular. “O
povo brasileiro quer e precisa ser ouvido sobre que tipo de reforma deve ser
feita. Pela Constituição Federal, o plebiscito, por si só, não pode fazer a
reforma, mas cumpre o papel de dizer ao Congresso Nacional como ela deve ser. É
muita arrogância achar que o povo é desinformado e que não pode orientar, não
sabe dar a receita para a doença da política.” A medida anunciada pela
presidenta veio depois dos protestos, que geraram queda na sua aceitação
popular. A vice-presidente nacional do PT reconhece que o efeito é negativo,
mas que atinge governadores e prefeitos. “A diferença é que Dilma está dando
respostas às ruas. Ela sabe da sua responsabilidade e os desafios a serem
enfrentados. Não adianta a oposição querer transformar as mobilizações legítimas
do povo numa crise de governo.”
JORNAL DE FATO – A oposição, embora se
diga disposta a apoiar a ideia do plebiscito, bate na tese de que não se terá
tempo hábil para implementar as alterações a serem propostas à Reforma Política
às eleições de 2014. A senhora acha que o plebiscito é necessário?
FÁTIMA BEZERRA – Absolutamente
necessário e adequado. É preciso entender que o brasileiro, tanto o que foi
para a rua como o que ficou em casa, sente a necessidade de mudar o modelo
político em vigor no País. O povo brasileiro quer e precisa ser ouvido sobre
que tipo de reforma deve ser feita. Pela Constituição Federal, o plebiscito por
si só não pode fazer a reforma, mas cumpre o papel de dizer ao Congresso
Nacional como ela deve ser. É muita arrogância achar que o povo é desinformado
e que não pode orientar, não sabe dar a receita para a doença da política. É
muito desrespeito vender a ideia que as pessoas sabem eleger seus
representantes, mas é incapaz de escolher propostas. Os que são contra o
plebiscito querem apresentar um engodo como alternativa, o chamado referendo.
Ou seja, querem fazer a reforma e ao povo numa espécie de chantagem, caberia
apenas duas opções, "sim" para aceitar a fórmula pronta, ou
"não" rejeita tudo e acabou reforma. Referendo é querer passar para o
povo a responsabilidade por algo que ele não fez nem deu “pitaco”.
NÃO seria mais interessante expor pontos
da Reforma Política antes do plebiscito?
CLARO que sim. A realização do
plebiscito requer evidentemente um período de propaganda do TSE, no rádio e TV
com esclarecimentos aos eleitores sobre como serão as perguntas, o que
significa cada opção e como se dará o voto. Mas é importante ressaltar que a
população não é alheia ao debate político e já tem um razoável acúmulo de
informações.
VIU-SE que a ideia do plebiscito veio
depois da onda de movimentos populares nas ruas e a presidenta Dilma Rousseff
disse, em outras palavras, que seria para que a corrupção fosse considerada
crime hediondo. A senhora concorda?
VEJA só: enquadrar corrupção como crime
hediondo fez parte das propostas que a presidenta Dilma apresentou à nação,
como resposta imediata às mobilizações das ruas. O Senado Federal, com o apoio
do governo, já aprovou no último dia 26 de junho projeto com esse conteúdo.
Agora está na Câmara Federal, onde espero que seja aprovado o mais rápido
possível. Vamos lutar por isso, até porque durante toda minha militância de
cinco mandatos legislativos essa foi sempre uma prioridade da ação política que
pratico. Defendo ainda uma legislação mais dura e eficaz no combate à
impunidade e além de avançar nos instrumentos de controle social.
ONDE o governo da presidenta Dilma
Rousseff errou, já que a oposição alardeia que os movimentos populares recentes
são fruto da falta de ações do governo em áreas vitais da sociedade?
A OPOSIÇÃO conservadora, composta por
partidos que nunca estiveram nas ruas para apoiar as lutas do povo e, portanto
não sabem interpretá-las, está atordoada. Fica tentando fazer leituras que
buscam manipular o que de fato está acontecendo. O povo está nas ruas para
exigir avanços, e isso é um exercício de cidadania. As mobilizações pressionam
prefeitos, governadores, o Poder Judiciário, o Legislativo. A direita força a
barra para tentar uma falsa caracterização de que esse é um movimento contra o
governo da presidenta Dilma. Uma coisa é o que o povo está dizendo nas ruas,
outra coisa é a versão que é apresentada ao restante da população. Poderia ser
cômodo para o PT fazer o discurso que a origem de todos esses protestos estava
no valor das passagens do transporte público, que isso é uma pauta municipal e
estadual, no caso dos metrôs e do transporte intermunicipal, como é o caso aqui
da região metropolitana de Natal, que é fixada pelo Governo do Estado. Mas a
presidenta Dilma fez uma leitura correta. Esse é o momento que o povo quer
mais, no momento que as polícias dos governos do PSDB de São Paulo e Minas
Gerais reprimiram com violência os primeiros protestos, o povo foi para a rua
com muito mais força, com uma pauta muito mais extensa. Contra a violência,
contra a corrupção, questionando os gastos com a Copa, por melhorias na saúde e
na educação. Então essa é uma pauta municipal, estadual e federal e por isso a
presidenta chamou governadores e prefeitos para um pacto que desse resposta a
essa pauta.
DIAS passados, o senador Cristóvão
Buarque fez pronunciamento, no qual afirmou que a presidenta, em recente
pronunciamento em rede nacional, deveria ter apontado os erros do Governo e
pedido perdão à população...
EU RESPEITO muito o senador Cristóvão,
temos uma relação de amizade de longo tempo e a nossa luta comum em favor da
educação tem nos aproximado cada vez mais, mas acho que ao propor o pacto com
alterações em diversas áreas, o governo já deu sinais de que está disposto a
corrigir o que carece de correção. Não podemos aceitar um discurso de terra
arrasada, como se nada tivesse sido feito por esse governo. Ao contrário: nos
últimos 10 anos, o Brasil mudou e teve enormes avanços na geração de empregos,
na distribuição de renda, na educação, nas políticas de moradia, entre outros.
O que essas mobilizações de rua dizem é que quer mais avanços e em áreas onde
de fato é preciso avançar. Portanto, discordo totalmente dessa posição do senador.
A presidenta não fugiu da raia. Tem tratado as manifestações com muita
convicção e respeito democrático. Tem escutado e dialogado com as ruas.
A POLÍTICA econômica do Governo Federal
tem entrado com frequência na pauta dos discursos de parlamentares da oposição.
A senhora vê que a economia estaria, realmente, no eixo central dos problemas
levantados pelos oposicionistas?
MAIS uma vez, a oposição cai no discurso
fácil. Evidentemente que a crise econômica mundial também afeta o Brasil, mas
temos reagido bem a tudo isso. A oposição e parte da mídia têm insistido em
plantar o terror de volta da inflação, de aprofundamento da crise, mas os
fundamentos da economia brasileira estão bem plantados. O governo não
descuidará do controle da inflação e dos demais problemas da economia, que não
são só brasileiros. Alguns países europeus, por exemplo, estão em situação de
insolvência e até recorrendo ao Brasil como tábua de salvação. Exatamente pela
ação firme do governo Dilma, ainda temos uma situação de manutenção dos níveis
de emprego, investimentos públicos, políticas sociais etc..
DEPOIS dos protestos, viu-se que houve
baixa na aceitação da presidenta Dilma Rousseff. Existem motivos para a queda
na popularidade?
EVIDENTEMENTE que o povo na rua
significa sempre desgaste para os governantes de plantão. Porém, isso não atinge
apenas a presidenta Dilma. Todos os governadores e prefeitos foram atingidos,
segundo as pesquisas de opinião. A diferença é que Dilma está dando respostas
às ruas. Ela sabe da sua responsabilidade e os desafios a serem enfrentados.
Não adianta a oposição querer transformar as mobilizações legítimas do povo
numa crise de governo. Repito: não adianta a oposição de forma oportunista
insistir na tese de que as mobilizações só afetaram a presidenta Dilma.
NO PLANO estadual, como a senhora
analisa o quadro que se desenha para as eleições do próximo ano? É possível
entendimento da oposição para uma chapa de consenso?
EU ACREDITO que sim. No primeiro
semestre, o PT fez uma rodada de conversas com todos os partidos de oposição.
Iniciou um processo de seminários internos, em que estamos discutindo, além da
conjuntura, os planos do partido para 2014. O PT potiguar quer ousar, quer
crescer. Nossa meta é ampliar a presença na Assembleia, manter o espaço na
Câmara dos Deputados e participarmos da chapa majoritária. Neste segundo
semestre, devemos concluir os nossos seminários e retomar as conversações com
os partidos que fazem oposição ao governo do DEM para discutirmos não apenas
uma aliança político-eleitoral, mas um projeto alternativo para o Rio Grande do
Norte. Afinal, o que nos unirá não será apenas a questão eleitoral, mas o que
vamos apresentar ao povo potiguar como alternativa ao desastre que está sendo
esse governo, ou desgoverno, como preferem alguns.
A SENHORA teria interesse na chapa
majoritária?
O PT tem interesse e planos para uma
chapa majoritária sim, evidente. No meu caso em particular, volto a afirmar que
continuo trabalhando o projeto de reeleição. Porém, tenho muita simpatia pela
disputa ao Senado Federal. É um espaço político importante, uma importante
ferramenta para ampliar a minha luta em defesa da educação e melhorar a vida do
nosso povo. Se for essa a decisão do meu partido e aliados, analisaremos com
muito entusiasmo e responsabilidade essa possibilidade.
DÁ PARA sentir ou perceber mudanças no
Rio Grande do Norte nos dois anos e seis meses do governo democrata?
PARA pior. O governo do DEM está na reta
final e todos os problemas dos primeiros dias se agravaram substancialmente.
Apesar da postura republicana da presidenta Dilma, que não tem se negado a
apoiar o governo do RN, algumas áreas como saúde, segurança pública, combate
aos efeitos da seca estão uma calamidade. A educação está abandonada e os
servidores são destratados. Decisões judiciais são simplesmente ignoradas e
descumpridas. Fora a construção do estádio para a Copa e obras do Governo Federal,
não existe um investimento do Governo do Estado e o que aparece na propaganda
são obras do governo Dilma, como duplicação de BRs e construção do aeroporto de
São Gonçalo. O governo do DEM é medíocre e ineficiente, do ponto de vista
administrativo e politicamente conservador. Infelizmente, o povo potiguar está
vendo o quanto é duro fazer escolhas erradas, como a que foi feita em 2010. Mas
a democracia é um eterno aprendizado, e 2014 está chegando, com grandes
expectativas de correção de rumo para o nosso Estado.
Fonte: Jornal de Fato
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