Em 27 de novembro do ano passado o blog publicou a postagem abaixo. Oito meses se passaram e ela continua um dos textos mais acessados deste espaço. Para facilitar a "pesquisa", o blog a coloca em plano superior. Para facilitar a leitura...
'É essencial manter a essência...'
Político que se preza deve levar em
consideração parte de letra de composição cantada pela dupla "Os
Nonatos". Diz assim: "... tenho medo de você mudar e a outra pessoa
não me apaixonar..." Essa frase, que pode parecer apenas impactada e
pensada para causar rima, é tão intensa e profunda quanto o viver humano. Mas a
letra segue com outro trecho interessante: "... quem não tem caráter muda
a consciência/é essencial manter a essência..."
Para bom entendedor, bastam duas frases. O
que parte da letra de "Os Nonatos" remete é uma questão puramente
filosófica. Primeiro porque remete ao ato de o homem se transformar. Algo
ligado diretamente ao fogo de Heráclito, ao Devir.
Ou seja: tudo se transforma e tudo necessita
de algo que o complemente. Assim como dia e noite, morte e vida... Na visão
racional de mundo exposta por Heráclito, tudo está em constante transformação.
Inclusive e sobretudo o homem. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Do
nascimento à morte, uma série de fatores ocorre e nos transforma.
E o filósofo vai mais além ao reafirmar o
raciocínio acerca da transformação: "é impossível a mesma pessoa entrar na
água de um mesmo rio duas vezes."
Ao dar a primeira passada, a água corrente é
uma e ao ensaiar o segundo passo, alguma coisa aconteceu no universo que
modificou o homem: uma célula que morreu e outra nasceu, crianças nasceram,
árvores germinaram, pessoas adoeceram e o universo também sofreu alteração.
Sim, pois segundo a física quântica, o universo está sempre em expansão. Daí o
homem também não ser mais o mesmo.
Ocorre que, apesar dessa transformação, é
primordial que o homem mantenha sua essência. É igual à laranja: descasque-a e
sobrará os gumes. Tire-os e restam o bagaço e o caroço. Tire-os. Restará a
essência. A alma. Assim nos ensina Heráclito.
Na outra frase, "quem não tem caráter
muda a consciência/é essencial manter a essência...", a dupla "Os
Nonatos" mescla Heráclito com Aristóteles. Este segundo apontará que é a
consciência que determina a vida. Assim sendo, se alguém mudar sua consciência,
obviamente, transformará a própria essência. Perderá, consequentemente, o que
conquistou anteriormente.
E é aí que entra a questão posta no primeiro
parágrafo deste post: o político. Não aquele vislumbrado pelo nascedouro da
Democracia, na Grécia Antiga, do homem enquanto ser político, e sim ao que se
envolve na política partidária. Ao que detém mandato eletivo.
Em campanha eleitoral, o sujeito se apresenta
como uma pessoa. Consegue atrair admiradores, seguidores e, obviamente, eleitores.
Depois, com o mandato garantido, resolve atropelar algo inerente ao que o levou
à determinada função. Já não olha nos olhos e nem cumprimenta as pessoas como
antes. Esse transformar é o que acaba com alguns.
Uns podem até não vislumbrar ou detectar relação
com que o blog diz aqui com a chamada vida prática. Mas, se formos analisar o
que ensinam teóricos, os quais embasam todas as ciências, acabaremos
concordando com a tese aqui exposta.
Daí alguns políticos buscarem a filosofia
para apresentarem frases de efeito. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,
Platão e vários outros são exemplos desta constatação. Não que os ensinamentos
destes pensadores tenham algum efeito na essência ou na transformação que se
evidencia pós-abertura de urnas. Mas sim para recuperarem algo perdido no tempo
e no espaço: a confiança neles mesmos. Sim, pois quem se transforma, quem perde
a essência precisa, necessariamente, rever seus caminhos e detectar onde e como
aconteceram fatos que provocaram essas transformações. Uns conseguem voltar às
origens. Outros se perdem. Assim como muitos não conseguem captar nas palavras
algo que o senso comum jamais alcança.